COMEÇOU:
Após início pobre em Bento Ribeiro, Ronaldo conquista o mundo
Fenômeno cresceu no subúrbio do Rio de Janeiro jogando bola nas ruas e foi vendido pelo São Cristóvão por apenas 7,5 mil dólares para empresários

Ronaldo ergue troféu ainda no São Cristovão
Em 1994, um garoto magro e dentuço conquistava o Brasil. A comparação com Pelé era inevitável. Aos 17 anos, ele vestia a camisa da seleção brasileira pela primeira vez logo contra a Argentina. No jogo seguinte marcava o primeiro gol contra a Islândia. E após só duas partidas com a amarelinha era convocado para disputar a Copa do Mundo. A história de glória de um garoto pobre, que cresceu em uma casa simples no bairro de Bento Ribeiro, no subúrbio do Rio de Janeiro, começava a ser escrita.
Mais novo dos três filhos de Nélio, que era camelô, e Sônia, sorveteira, ele dormia no sofá. Teve uma infância pobre, embora não miserável. O nome surgiu por causa de uma homenagem feita ao médico Ronaldo Valente, que buscou Dona Sônia em casa no dia 18 de setembro de 1976 em um fusquinha e a levou para o hospital São Francisco Xavier, em Itaguaí, para o parto. O doutor foi também padrinho do atacante, que demorou para ser registrado... Seu Nélio perdeu o prazo e acabou falando que o filho tinha nascido no dia 22 de setembro - quatro dias depois da data verdadeira - para evitar a cobrança de uma multa no cartório de Cascadura.
Era mais fácil encontrar Ronaldo jogando bola nas ruas de Bento Gonçalves do que nas salas de aulas no Colégio Nossa Senhora de Aparecida. Não era um bom aluno, não se sentia à vontade naquele ambiente acadêmico. Nas salas de aulas deixava de ser o garoto admirado pelo futebol apurado e passava a ser vítima de brincadeiras e piadas dos amigos por causa dos dentes incisivos abertos. Não demorou para ganhar o apelido de Mônica, famosa personagem das história de Maurício de Souza. Enquanto construia uma má reputação na escola, Ronaldo ganhava fama entre os peladeiros do bairro.
Não demorou para baterem na porta da casa número 114 da rua General César Obino. Ronaldo recebeu um convite para virar sócio-atleta do Valqueire Tênis Clube. Não havia vaga no time mirim. Acabou virando goleiro. Não deu certo. O time estava em último lugar no Campeonato Carioca de futebol de salão. O técnico Marquinhos resolveu, então, radicalizar. Conhecendo a fama de "Dadado", resolveu colocá-lo em uma partida no ataque. Resultado: Ronaldo fez quatro gols na vitória por 5 a 4 em cima do Vasco, então líder da competição.

Carteirinha de Ronaldo no São Cristovão
A atuação chamou a atenção de um supervisor do Social Ramos, um outro time que disputava o Carioca. E logo Ronaldo trocaria de clube. O Social Ramos era mais tradicional, disputava o Campeonato Metropolitano. Foi quando o atacante ganhou fama entre quem acompanhava a competição. "Dadado" fez 166 gols na temporada. Passou a ser visto como um garoto extraordinário. E a ideia de seguir os passos do ídolo Zico amadureceram na cabeça de Ronaldo. Aos 12 anos, ele tinha fixo na cabeça que queria jogar no Flamengo. Era o clube do coração, o que pagava bem, o que revelava bons jogadores.
A vontade e a determinação fizeram Ronaldo descobrir o dia e a hora de uma peneira. Pegou dois ônibus até chegar à Gávea e fazer o teste com outros 400 garotos. Passou. Mas não tinha como pagar o transporte para ir treinar todos os dias. E não conseguiu ajuda no Flamengo. Precisou desistir da ideia. Acabou, então, em São Cristóvão. Um convênio com o Social Ramos levou o atacante aos primeiros treinos no clube. O técnico Roberto Gaglianone logo percebeu que havia ali um jogador diferenciado. Conseguiu, então, que o diretor Ary de Sá pagasse o trem de Bento Ribeiro até a Central.
No dia 12 de agosto de 1990, Ronaldo fez seu primeiro jogo pelo mirim do São Cristóvão. E marcou três gols na vitória por 5 a 2 sobre o Tomazinho. No total, foram oito gols em 12 jogos naquele ano.

Súmula do primeiro jogo de Ronaldo pelo São Cristovão, em 1990: três gols e vitória
No seguinte, já no infantil, foram 28 jogos e 17 gols. Ronaldo, lógico, despertou a atenção de empresários. Por indicação de Jairzinho, o Furacão do Tri, Reinaldo Pitta e Alexandre Martins compraram o passe do atacante aos 15 anos pagando apenas US$ 7,5 mil ao São Cristóvão, em 1992. Apesar do valor irrisório da venda, o São Cristóvão lucrou bastante com o sucesso de Ronaldo. De acordo com o Estatuto de Transferência do Jogador, editado pela Fifa em outubro de 2003, todo clube formador de atleta tem direito a 5% de cada transferência do pupilo. Com isso, o clube carioca faturou R$ 1.269.849 do Real Madrid e mais R$ 122.363 do Milan.

Ronaldo São Cristovão
Reinaldo Pitta e Alexandre Martins tentaram levar Ronaldo para o São Paulo e para o Botafogo. Mas não tiveram sucesso. A primeira ideia da dupla era vender 50% do passe do atacante para o Alvinegro, que seria uma boa vitrine. Mas o clube carioca não quis. Já com o Tricolor a proposta era oferecer Ronaldo por R$ 25 mil, que só queria pagar R$ 15 mil.
Foram dois anos e meio jogando nas divisões de base do São Cristóvão, onde marcou 44 gols em 73 jogos. Em 1993, Ronaldo foi convocado para disputar o Sul-Americano sub-17 com a seleção brasileira. Apesar do fracasso - o Brasil terminou em quarto lugar e ficou fora do Campeonato Mundial da categoria pela primeira e única vez da história - o atacante se salvou e foi o artilheiro da competição com oito gols. Motivo suficiente para chamar a atenção do Cruzeiro.
Pouco tempo depois, o atacante desembarcava em Belo Horizonte para começar a brilhar. O time mineiro aceitou pagar US$ 50 mil por 55% dos direitos econômicos do jogador. Era conhecido ainda apenas como "Ronaldo Luís".

Aos 16 anos, Ronaldo no Cruzeiro
Sua estréia com a camisa do Cruzeiro aconteceu em em março de 1993, contra o Botafogo de Matosinhos-MG, na preliminar de Cruzeiro e Desportiva-ES, pela Copa do Brasil, no Mineirão. Ronaldo marcou dois gols na goleada por 4 a 1. Pouco depois conquistou a Supertaça Minas Gerais e a Copa Belo Horizonte de Futebol Júnior tornando-se o artilheiro em ambas as competições. Destacou-se e passou a ser tratado como um jogador especial.
Quando o Cruzeiro avançou para a fase semifinal da Copa do Brasil, o técnico Pinheiro poupou os titulares e escalou um mistão para as partidas do Campeonato Mineiro. Ronaldo passou a ser relacionado. Foi escalado como titular contra a Caldense e fez sua estreia entre os profissionais aos 16 anos no dia 25 de maio de 1993, em Poços de Caldas, na vitória por 1 a 0 sobre a Caldense.
Aos 16 anos, Ronaldo fez sua estreia no futebol profissional. Foi no dia 25 de maio de 1993, pelo Campeonato Mineiro. Mesmo quando não era relacionado para as partidas, Ronaldo se concentrava com o time principal. E acompanhou a delegação do time à Porto Alegre, onde ocorreria a decisão da Copa do Brasil contra o Grêmio. Em agosto, viajou para disputar amistosos na Europa. Fez o primeiro gol como profissional em cima do Belenenses.
Voltou da excursão por Portugal despertando interesses de dirigentes italianos. O Cruzeiro recebeu a primeira sondagem do Inter de Milão, recusada mesmo com proposta de 500 mil dólares (o que significava uma valorização de 1.000% em cinco meses). Preferiu apostar na revelação. Deu certo. Era o início de uma carreira de glórias... Em pouco tempo, Ronaldo teria o mundo às suas mãos, conquistaria títulos, seria eleito três vezes o melhor jogador do mundo pela Fifa, viraria o ícone de uma geração...
VENCEU:
Ronaldo: uma carreira recheada de títulos, recordes e glórias
Dos sete clubes que defendeu, Ronaldo foi campeão em seis. Na seleção, duas Copas e o maior goleador da história. E três vezes melhor do planeta...

Ronaldo comemora o título da Copa de 2002
Duas vezes campeão do mundo com a seleção brasileira, três vezes melhor jogador de futebol do planeta, maior artilheiro da história das Copas... Ronaldo se despede dos campos, mas deixa seu nome escrito na história do esporte. O Fenômeno, que também ergueu taças no Brasil, na Espanha, na Holanda e na Itália, é um verdadeiro colecionador de glórias e títulos.
Revelado pelo São Cristóvão, do Rio de Janeiro, foi no Cruzeiro que Ronaldo começou a ganhar projeção. Estreou aos 16 anos e não precisou de muito tempo para chamar a atenção. Ainda como promessa das categorias de base, foi alçado ao time profissional em 1993. Mesmo não estando no elenco principal, ganhou naquele ano o seu primeiro título: a Copa do Brasil. Era só a primeira medalha que penduraria na vasta galeria. Em 1994, antes de fazer as malas e ir embora para a Europa, ganhou o Campeonato Mineiro, quando foi o goleador máximo da competição, marcando 21 gols.
Convocado por Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo de 1994, integrou o elenco no Mundial dos Estados Unidos. Sequer entrou em campo, mas fez parte do grupo vencedor. E, querendo ou não, é um dos “tetras”.
Na carreira, foi campeão em quase todos os clubes em que jogou. Com exceção do Milan, sua última equipe na Europa, nas outras o Fenômeno está em algum pôster ou tem o nome em alguma faixa.
A primeira conquista em território estrangeiro foi em 1996. Com a camisa do PSV, ganhou a Copa da Holanda, o segundo torneio mais importante do país. No Barcelona foi campeão da Supercopa da Espanha, da Copa da Espanha e da Recopa Europeia. E, vestindo azul e grená, chegou ao topo do mundo, sendo eleito pela Fifa o melhor jogador de futebol da Terra, prêmio que voltaria a ganhar em 1997 (no Inter de Milão) e em 2002 (no Real Madrid).

Ronaldo disputou sua quarta Copa do Mundo em 2006. Na Alemanha, não brilhou, não ganhou, mas registrou seu nome no livro dos recordes. Com os três gols que anotou, chegou a 15 e superou o alemão Gerd Muller para se tornar o maior artilheiro da história dos Mundiais.
O Milan, clube que defendeu entre 2007 e 2008, é o único em que o Fenômeno entrou e saiu sem gritar “é campeão” nenhuma vez. Jogou só 20 partidas e sofreu mais uma séria lesão no joelho. De novo, cirurgia, tratamento e a dúvida: será que ele volta?

Ele é um campeão! Ele é um Fenômeno!
Convocado por Carlos Alberto Parreira para a Copa do Mundo de 1994, integrou o elenco no Mundial dos Estados Unidos. Sequer entrou em campo, mas fez parte do grupo vencedor. E, querendo ou não, é um dos “tetras”.
Na carreira, foi campeão em quase todos os clubes em que jogou. Com exceção do Milan, sua última equipe na Europa, nas outras o Fenômeno está em algum pôster ou tem o nome em alguma faixa.
A primeira conquista em território estrangeiro foi em 1996. Com a camisa do PSV, ganhou a Copa da Holanda, o segundo torneio mais importante do país. No Barcelona foi campeão da Supercopa da Espanha, da Copa da Espanha e da Recopa Europeia. E, vestindo azul e grená, chegou ao topo do mundo, sendo eleito pela Fifa o melhor jogador de futebol da Terra, prêmio que voltaria a ganhar em 1997 (no Inter de Milão) e em 2002 (no Real Madrid).

Em 1997, como jogador do Inter de Milão, Ronaldo é eleito pela Fifa o melhor do mundo pela segunda vez
No Inter, faturou a Copa da Uefa de 1998, antes de romper o tendão patelar do joelho esquerdo. A cirurgia o deixou fora de ação por cinco meses. Em 98 também teve chance de brilhar na Copa do Mundo da França, mas a decisão contra os donos da casa, não é a recordação que o atacante mais gosta de ter: derrota de 3 a 0 e um vice amargo.
Em 2002, após se recuperar de mais uma grave lesão, agora no joelho direito, o seu grande momento: dividindo os méritos com Rivaldo, Ronaldo foi um dos maiores nomes da Copa do Mundo organizada em conjunto por Coreia do Sul e Japão, o que lhe deu, de novo, o prêmio da Fifa. A final, quando fez os dois gols da vitória de 2 a 0 sobre a Alemanha, é uma das partidas mais memoráveis da sua gloriosa carreira. Foi também o artilheiro do torneio, com oito gols. Defendendo o Real Madrid, mais títulos para a coleção: Mundial (2002), Campeonato Espanhol (2003 e 2007) e Supercopa da Espanha 2007.Ronaldo disputou sua quarta Copa do Mundo em 2006. Na Alemanha, não brilhou, não ganhou, mas registrou seu nome no livro dos recordes. Com os três gols que anotou, chegou a 15 e superou o alemão Gerd Muller para se tornar o maior artilheiro da história dos Mundiais.
O Milan, clube que defendeu entre 2007 e 2008, é o único em que o Fenômeno entrou e saiu sem gritar “é campeão” nenhuma vez. Jogou só 20 partidas e sofreu mais uma séria lesão no joelho. De novo, cirurgia, tratamento e a dúvida: será que ele volta?

Com o então presidente Lula, Andrés Sanches e Mano Menezes, Ronaldo festeja a Copa do Brasil de 2009
Voltou. Voltou ao seu país. Voltou a jogar. Voltou a ser campeão. Contratado pelo Corinthians no fim de 2008, foi o grande nome da reconstrução do Timão após o retorno à Série A do Campeonato Brasileiro. Títulos? Foram dois: Paulista e Copa do Brasil em 2009. Frustrações foram três: as duas Libertadores que deixou escapar e o Brasileirão do ano passado.
Ronaldo encerra a sua carreira nesta segunda-feira e provavelmente não tem mais lugar para pendurar medalhas ou exibir troféus nas prateleiras da sua casa.Ele é um campeão! Ele é um Fenômeno!
REINOU:
Ronaldo: de craque digital a jogador-celebridade, um ícone mundial
Ele cumprimentou reis e papas, discutiu com presidentes, namorou atrizes, ficou amigo de astros do rock - a fenomenal vida de Ronaldo fora de campo
Quando apareceu para o Brasil, dentro de um uniforme do Cruzeiro que parecia dois números maior, Ronaldo era tão magro e franzino... e tão dentuço – que parecia um sorriso que, por algum acaso, tinha braços e pernas. Um sorriso que chutava com as duas – em geral com endereço certo. O ano era 1993 – e nem em seus sonhos mais exóticos a mãe de Ronaldo, dona Sônia, poderia imaginar que seu filho – em menos de uma década – se tornaria o mais famoso brasileiro vivo.
Em 18 anos de carreira, Ronaldo se tornou o primeiro craque da era digital – o mais midiático dos jogadores de futebol - e reescreveu de forma peculiar a velha história do menino pobre que ganha o mundo com a bola - e cai em tentação. Ronaldo caiu - e como caiu. E Ronaldo se levantou - e como se levantou...

Ronaldo tomou o mundo de assalto... e de repente. Em meros cinco anos - de 1993, quando deixou o Cruzeiro, a 1998 – quando perdeu a primeira Copa realmente sua – o garoto tímido se tornou o rosto planetário do futebol. O sorriso de dentes separadíssimos virou ícone mundial. Ronaldo cresceu em todas as direções, ganhou musculatura, começou a jogar como um trator habilidoso. O apelido de Fenômeno surgiu – e grudou como um sobrenome. E a mais surfável onda futebolística da história se apresentou diante do craque.
Os anos 90 viram um salto quântico do negócio futebol. A partir da Inglaterra, os direitos televisivos do futebol transformaram o esporte num negócio bilionário. Os salários dos jogadores saltaram junto – e com a explosão da internet e das novas mídias – os jogadores viraram celebridades planetárias com rapidez. Na crista desta onda estava Ronaldo Luiz Nazário de Lima, o primeiro craque instantaneamente mundial.
Ronaldo reinou em Barcelona, Madrid e Milão. Depois de ensaiar na fria Eindhoven, virou ET em Barcelona, com arrancadas impressionantes em que parecia carregar e atropelar zagueiros. Ali nasceu a marca R-9, cuidadosamente concebida pelo fabricante de material esportivo que cedo assinou um contrato vitalício com o craque.
Namoradas famosas, noitadas e trabalho como embaixador da ONU
Ronaldo vendia. Vendia chuteiras, shorts, camisas. Vendia saúde, energia, bem-estar. Outdoor e caixa registradora ambulante, o jogador virou capa de revistas dos mais variados temas. Abriu até um bar no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, com o nome R-9. E, inesperadamente, o Barcelona resolveu vendê-lo no auge – em vez de reajustar seu salario – e Ronaldo se mudou – com 22 anos para a Internazionale de Milão, a capital italiana da moda.
Com a fama, vieram as namoradas famosas. A primeira foi a atriz Suzana Werner.
Com ela, começou a surgir um novo Ronaldo – elegante, com roupas de grife, óculos estilosos – e um certo jeito celebridade de ser. O menino politicamente correto começou a sair de campo – e a dar lugar a um homem com opiniões nem sempre certinhas – e horários nem sempre normais.
O casamento com Suzane acabou – e outra loira entrou em campo – a jogadora de futebol Milene Domingues. Com Milene, Ronaldo teve seu primeiro filho – Ronald – e começou a enfrentar de vez o lado chato da fama. Os paparazzi italianos começaram a cercá-lo – e a farejar suas primeiras noitadas.

Amigo de Bono Vox, personagem dos Simpsons, marido de Cicarelli

- Ali eu sofri. Eu ainda estava apaixonado por ela.

Veio a Copa de 2006. Quem viu Ronaldo em 1993, magrelo, quase um fiapo, humilde e incapaz de dar uma declaração fora da linha... dificilmente imaginaria que um dia o Fenômeno seria chamado de gordo – e teria capacidade de discutir com presidentes. Mas em 2006, o menino já tinha virado homem. Quando Lula perguntou sobre sua obesidade antes da Copa da Alemanha – Ronaldo pegou de sem-pulo:
- Se ele disse que eu estou gordo... todo mundo diz que ele bebe pra caramba...
Era celebridade contra celebridade – e o dentuço de Bento Ribeiro não levava mais desaforo pra casa. O excesso de lesões e de peso, porém, já tinha desidratado o Fenômeno – a explosão muscular, as arrancadas incríveis tinham ido embora. Ronaldo fez três gols, se tornou o maior artilheiro de todas as Copas (com 15) – mas o Brasil caiu diante de novo da França de Zidane. E o peso da derrota caiu sobre Ronaldo - e sua nova e inclemente adversária, a balança.
O momento mais triste: detido ao lado de travestis em um motel

Mais que isso – botou o Corinthians no mapa mundial do futebol. Quando o ator Hugh Jackman (de Wolverine) veio ao Brasil – foi ao Parque São Jorge – visitar Ronaldo. Demi Moore e Ashton Kuchtner? Um alô para Ronaldo. Desfile de moda? Ronaldo Fashion Week. Em São Paulo, o craque digital esteve por toda parte.
Veio 2010, e Ronaldo começou a usar o twitter – e faturar com isso. Vendeu sua página no microblog para uma operadora de telefonia – e mostrou seu talento digital – usando a internet como ferramenta de marketing e opinião. Chegou a 1,2 milhão de seguidores. Dentro de campo, porém, o Corinthians foi mal.

- O Faustão me disse para investir numa empresa de marketing e consultoria esportiva. Quero dar consultoria a jogadores de futebol que mal sabem fazer seu imposto de renda – disse em entrevista à revista Istoé Dinheiro.
A evidente derrota para a balança – e o custo cobrado pelo peso dentro de campo – cobraram a derradeira conta. A eliminação diante do Tolima na pré-Libertadores de 2011 afetou sua relação com a Fiel torcida corinthiana. Ronaldo, campeão do mundo, joelhos baleados, inúmeras lesões musculares, concluiu que era hora.
Nos últimos dias, Ronaldo vinha trocando carinhos via twitter com Neymar. No jovem craque do Santos - Ronaldo talvez tenha percebido, algo nostalgicamente, a imagem daquele menino franzino de 1993 – o sorriso com pernas e braços. O tempo passa até para os Fenômenos. Ronaldo, o jogador, é passado, quem diria... Ronaldo II, o pós-jogador, já entrou em seu lugar.

O casamento com Milene Domingues em 1999:
uma vida de jogador pop star
uma vida de jogador pop star
Ele namorou atrizes, visitou zonas de guerra, cumprimentou papa, discutiu com presidente. Ele se machucou uma, duas, três vezes - ficou amigo de astros do rock, foi fotografado em situações constrangedoras. Era magro, engordou. Era feio, ganhou estilo. Casou em castelo francês, foi flagrado com travestis, foi televisionado, comentado, badalado em tantos idiomas - que hoje pouca gente se lembra do menino que apenas fazia gols e comemorava de braços e sorriso aberto.
Ronaldo tomou o mundo de assalto... e de repente. Em meros cinco anos - de 1993, quando deixou o Cruzeiro, a 1998 – quando perdeu a primeira Copa realmente sua – o garoto tímido se tornou o rosto planetário do futebol. O sorriso de dentes separadíssimos virou ícone mundial. Ronaldo cresceu em todas as direções, ganhou musculatura, começou a jogar como um trator habilidoso. O apelido de Fenômeno surgiu – e grudou como um sobrenome. E a mais surfável onda futebolística da história se apresentou diante do craque.
Os anos 90 viram um salto quântico do negócio futebol. A partir da Inglaterra, os direitos televisivos do futebol transformaram o esporte num negócio bilionário. Os salários dos jogadores saltaram junto – e com a explosão da internet e das novas mídias – os jogadores viraram celebridades planetárias com rapidez. Na crista desta onda estava Ronaldo Luiz Nazário de Lima, o primeiro craque instantaneamente mundial.
Ronaldo reinou em Barcelona, Madrid e Milão. Depois de ensaiar na fria Eindhoven, virou ET em Barcelona, com arrancadas impressionantes em que parecia carregar e atropelar zagueiros. Ali nasceu a marca R-9, cuidadosamente concebida pelo fabricante de material esportivo que cedo assinou um contrato vitalício com o craque.
Namoradas famosas, noitadas e trabalho como embaixador da ONU
Ronaldo vendia. Vendia chuteiras, shorts, camisas. Vendia saúde, energia, bem-estar. Outdoor e caixa registradora ambulante, o jogador virou capa de revistas dos mais variados temas. Abriu até um bar no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, com o nome R-9. E, inesperadamente, o Barcelona resolveu vendê-lo no auge – em vez de reajustar seu salario – e Ronaldo se mudou – com 22 anos para a Internazionale de Milão, a capital italiana da moda.
Com a fama, vieram as namoradas famosas. A primeira foi a atriz Suzana Werner.
Com ela, começou a surgir um novo Ronaldo – elegante, com roupas de grife, óculos estilosos – e um certo jeito celebridade de ser. O menino politicamente correto começou a sair de campo – e a dar lugar a um homem com opiniões nem sempre certinhas – e horários nem sempre normais.
O casamento com Suzane acabou – e outra loira entrou em campo – a jogadora de futebol Milene Domingues. Com Milene, Ronaldo teve seu primeiro filho – Ronald – e começou a enfrentar de vez o lado chato da fama. Os paparazzi italianos começaram a cercá-lo – e a farejar suas primeiras noitadas.

No ano da Copa da França, um encontro com o Papa João Paulo II
Fora de campo, Ronaldo só crescia. Em 2000, ele recebeu e aceitou o convite das Nações Unidas para se tornar o Embaixador da Boa Vontade. Visitou Israel e os territórios palestinos - e se reuniu com líderes dos dois lados. Visitou Kosovo, ex-república sérvia maltratada pela guerra, desfilou em cima de um blindado, abraçou criancinhas e foi entrevistado por veículos do mundo inteiro. Em território kosovar, ele doou um cheque de 30 mil dólares para uma escola – e falou como gente grande:
- Ninguém deve ser condenado a uma vida de pobreza – seja por nascimento ou por causa de guerra. Quero dizer que todos podemos ajudar – e fazer algo para que os outros melhores suas existências.Amigo de Bono Vox, personagem dos Simpsons, marido de Cicarelli

Fenômeno em versão Simpson
Ficou amigo de atores e cantores, parceiro de Bono Vox, vocalista do U2. Participou de desfiles de moda, carregou tocha olímpica, se tornou até personagem dos Simpsons. Esteve no Haiti com a seleção brasileira - e foi parte do frenesi inacreditável que tomou a ilha. A vida de celebridade trazia, porém, tentações muitas. O casamento com Milene desmoronou – e o bom moço começou a sair decisivamente de campo.
Em 2004, Ronaldo começou a namorar a apresentadora de TV Daniela Cicarelli – lindíssima morena de olhos verdes – e se encantou de tal forma que resolveu bancar um casamento de conto de fadas. Pagou 20 mil euros (quase R$ 50 mil reais) pelo aluguel de um castelo francês – o Chateau de Chantilly – para a cerimônia. E assim foi – há exatamente seis anos – no dia 14 de fevereiro de 2005. Mas a parte do viveram-felizes-para-sempre durou apenas três meses. E Ronaldo sentiu o baque. Quando Cicarelli foi flagrada em cenas cálidas numa praia espanhola com um novo namorado, menos de um ano depois, o Fenômeno acusou o golpe:- Ali eu sofri. Eu ainda estava apaixonado por ela.

Com Daniela Cicarelli, o romance mais famoso
Depois de duas contusões seríssimas – e da redenção na Copa de 2002 – Ronaldo voltou para a Espanha – para jogar nos galáticos do Real Madrid – ao lado de Zidane, Figo, Beckham e Roberto Carlos. Mas sua carreira começou a virar o fio. O super-time madrilenho não conquistou nenhum titulo importante – e Ronaldo começou a ganhar... peso. Os humoristas do Casseta & Planeta não perdoaram – e criaram o personagem Ronaldo Fofômeno, um obeso dentuço vivido por Bussunda.Veio a Copa de 2006. Quem viu Ronaldo em 1993, magrelo, quase um fiapo, humilde e incapaz de dar uma declaração fora da linha... dificilmente imaginaria que um dia o Fenômeno seria chamado de gordo – e teria capacidade de discutir com presidentes. Mas em 2006, o menino já tinha virado homem. Quando Lula perguntou sobre sua obesidade antes da Copa da Alemanha – Ronaldo pegou de sem-pulo:
- Se ele disse que eu estou gordo... todo mundo diz que ele bebe pra caramba...
Era celebridade contra celebridade – e o dentuço de Bento Ribeiro não levava mais desaforo pra casa. O excesso de lesões e de peso, porém, já tinha desidratado o Fenômeno – a explosão muscular, as arrancadas incríveis tinham ido embora. Ronaldo fez três gols, se tornou o maior artilheiro de todas as Copas (com 15) – mas o Brasil caiu diante de novo da França de Zidane. E o peso da derrota caiu sobre Ronaldo - e sua nova e inclemente adversária, a balança.
O momento mais triste: detido ao lado de travestis em um motel

Andrea Albertini, uma das travestis do escândalo
de 2008 no Rio
de 2008 no Rio
Ronaldo voltou para Milão – para o Milan – e para as lentes dos paparazzi – que o seguiam em praias espanholas, ilhas gregas, boates por toda parte. A terceira lesão de joelho sacramentou o fim de sua carreira européia. O craque se operou em Paris – e pouco depois deixou o Milan. Veio treinar no Flamengo – seu Flamengo de coração – onde sempre disse que queria jogar. E com a camisa do Flamengo, depois de torcer no Maracanã pelo time e deixar a namorada Bia Anthony em casa – passou seu momento mais triste: foi detido num motel ao lado de três travestis. A celebridade mundial se transformou em anedota universal.
O impacto na imagem do Fenômeno foi imensa. Ronaldo virou motivo de piada em blogs, micro-blogs, gerais e arquibancadas. Gritos de torcida, vídeos no youtube, gracinhas no twitter. Mas, como sempre, Ronaldo se levantou da lona. Em 2009, surpreeendeu a todos e assinou com o Corinthians – em vez do Flamengo – e mesmo se metendo em outra confusão noturna – desta vez em Presidente Prudente, onde o time se concentrava – conseguiu dar sua enésima volta por cima. Jogou muito contra São Paulo e Santos e foi decisivo para a conquista do Campeonato Paulista. Depois faturou a Copa do Brasil em cima do Internacional.Mais que isso – botou o Corinthians no mapa mundial do futebol. Quando o ator Hugh Jackman (de Wolverine) veio ao Brasil – foi ao Parque São Jorge – visitar Ronaldo. Demi Moore e Ashton Kuchtner? Um alô para Ronaldo. Desfile de moda? Ronaldo Fashion Week. Em São Paulo, o craque digital esteve por toda parte.
Veio 2010, e Ronaldo começou a usar o twitter – e faturar com isso. Vendeu sua página no microblog para uma operadora de telefonia – e mostrou seu talento digital – usando a internet como ferramenta de marketing e opinião. Chegou a 1,2 milhão de seguidores. Dentro de campo, porém, o Corinthians foi mal.

Com Bia Anthony, a atual mulher
O sonho da Libertadores terminou ironicamente diante do Flamengo. E o time ficou no quase no Brasileirão. Ronaldo foi pai novamente – de duas meninas – com a agora esposa Bia Anthony. E assumiu um outro filho, fruto de uma relação veloz ocorrida em 2006 com uma brasileira que morava em Cingapura quando o seu Real Madrid fez uma pré-temporada no Japão, onde a moça trabalhava. Em 2010 ainda, o craque ouviu um conselho do apresentador Fausto Silva, o Faustão, e abriu a "9ine", uma parceria com o grupo inglês WWP e com o empresário Marcos Buaiz. Em 2011, a empresa já fechou contrato para administrar a carreira do lutador Anderson Silva – destaque brasileiro do MMA.
- O Faustão me disse para investir numa empresa de marketing e consultoria esportiva. Quero dar consultoria a jogadores de futebol que mal sabem fazer seu imposto de renda – disse em entrevista à revista Istoé Dinheiro.
A evidente derrota para a balança – e o custo cobrado pelo peso dentro de campo – cobraram a derradeira conta. A eliminação diante do Tolima na pré-Libertadores de 2011 afetou sua relação com a Fiel torcida corinthiana. Ronaldo, campeão do mundo, joelhos baleados, inúmeras lesões musculares, concluiu que era hora.
Nos últimos dias, Ronaldo vinha trocando carinhos via twitter com Neymar. No jovem craque do Santos - Ronaldo talvez tenha percebido, algo nostalgicamente, a imagem daquele menino franzino de 1993 – o sorriso com pernas e braços. O tempo passa até para os Fenômenos. Ronaldo, o jogador, é passado, quem diria... Ronaldo II, o pós-jogador, já entrou em seu lugar.
CAIU:
Ronaldo, um Fenômeno também em colecionar adversidades
Gols, títulos e fama se confundem com contusões e histórias polêmicas
Quando saiu de Bento Ribeiro, ainda franzino, de chuteira na mão, para dar os primeiros chutes no São Cristóvão, Ronaldo não imaginava que ganharia o mundo na forma de Fenômeno. Na briga com os zagueiros, sempre que estava bem fisicamente, chegava na frente, seja pela técnica ou pela força física. Foram essas virtudes aguçadas que lhe renderam dinheiro, fama, mulheres, títulos, gols, muitos gols, que o consagraram por três vezes como o maior jogador do planeta, o tornaram bicampeão mundial pela Seleção Brasileira - como calouro em 1994 e herói em 2002 - e ídolo nos clubes por onde passou.
Mas, tal como a velocidade com que surpreendia os adversários, o Fenômeno mostrou, em todos esses períodos, a ambiguidade que o marcou. Nos mesmos clubes em que foi ídolo, acabou também contestado. Foi amado e odiado pelas mesmas torcidas. Na Seleção Brasileira, se foi bicampeão mundial, saiu como vilão em outras duas Copas - em 1998, a convulsão horas antes da final contra a França teria deixado o time atônito, e em 2006 os quilos e farras a mais na Suíça e na Alemanha teriam desarticulado a concentração em torno da disputa.
Após os sérios problemas com o joelho, especialmente no Inter e no Milan, foi considerado incapaz para a volta ao futebol. Seja por jornalista, ou por médicos entrevistados. E se não bastassem os problemas dentro de campo, fora dele o craque mostrava vida de um pop star típico de anos 60. Naquele tempo, as palavras de "ordem" - na verdade, desordem - da rapaziada eram sexo, drogas e rock and roll. O roteiro da vida de Ronaldo daria um filme e tanto de uma figura polêmica: problemas com o peso, no casamento, acusações de envolvimento com travestis e drogas, discussões com ídolos e dirigentes, mau relacionamento com a imprensa.... O sucesso para Ronaldo não surgiu apenas em forma de glória.
Logo em 1993, quando começou a se sobressair no Cruzeiro e chamar a atenção com apenas 16 anos, Ronaldo viveu paralelamente glória e calvário. Marcou 12 gols em 14 partidas no seu primeiro Brasileiro, entre eles aquele em que enganou o goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez, ao roubar-lhe a bola num lance de malandragem ao melhor estilo de Pelé. Sagrou-se artilheiro da Supercopa da Libertadores, com oito gols. Mas na primeira decisão, pela Recopa Sul-Americana, contra o São Paulo, viveu seu primeiro revés, ao ver o goleiro Zetti defender sua penalidade e os tricolores levantarem o título.
Na Holanda, joelho começa a incomodarO pênalti perdido, no entanto, não atrapalhou a carreira de Ronaldo. A primeira derrota serviu como lição. Mais gols despertaram o interesse do PSV Eindhoven, e o atacante acabaria trilhando, pouco antes de ser tetra em 1994, o caminho do grande herói daquele título - foi no rival do Ajax que Romário começou a brilhar na Europa. Não foi só nisso que Ronaldo seguiu Romário. A história pública – e polêmica – de Ronaldo com as mulheres começa junto com sua primeira escalação para a Seleção Brasileira.
Em 1994, a modelo Nádia França deixou seu trabalho no Brasil para acompanhar o namorado na Holanda. A mineira afirmou que engravidou do jogador. Porém, a paternidade não foi reconhecida. Meses depois do fim do relacionamento, Nádia anunciou que sofreu um aborto espontâneo. Nesse momento, Ronaldo já estava iniciando o namoro com Susana Werner, que, na época, atuava na novela adolescente “Malhação” - hoje, a atriz é casada com o goleiro da Seleção Brasileira, Julio Cesar.
Dentro de campo, Ronaldo marcava gols às pencas na Holanda - foram 67 em 71 partidas oficiais. Bateu Kluivert na artilharia do nacional, com 30 gols. Mas começou a ter problemas com o joelho. A primeira cirurgia foi em fevereiro de 1996, após uma ressonância magnética constatar inflamações nos joelhos, especialmente calcificação no direito, que passou por uma "raspagem" na cartilagem. Recomendado a se submeter a uma lenta recuperação, nem ele nem o comando do PSV tiveram paciência: logo, logo Ronaldo já estava de volta aos campos, só que no banco. E aí, surgiu o primeiro problema com treinador: o holandês Dick Advocaat começou a irritá-lo.
Fenômeno na chegada e saída do BarçaO Barcelona já estava de olho em Ronaldo, que desembarcou na capital catalã para virar o Fenômeno. Voltou a seguir a trilha de Romário, que já saíra do Barça para o Flamengo. Com a camisa azul-grená, Ronaldo começou a encantar o planeta. Fechou o ano de 1996 com 17 gols em 20 jogos. Acabou eleito o melhor jogador do mundo pela primeira vez. Levantou a Copa do Rei e a Recopa Europeia. Os golaços lhe renderam o apelido que levou por toda a vida. Mas não conseguiu o título espanhol e surpreendeu a apaixonada torcida ao trocar, de repente, o Barça pelo Inter de Milão, que pagou multa a rescisória de US$ 32 milhões. De ídolo, passou a odiado pela torcida que o consagrou.
No Inter, Ronaldo voltou a fazer gols sensacionais. Agora com a camisa 10 em vez da 9, marcou 14 gols em 19 partidas ao encerrar o ano de 1997. Voltou a ser eleito o melhor do mundo. O título italiano, no entanto, não apareceu, apesar do bom desempenho - foi o vice-artilheiro, com 25 gols. Em compensação, faturou a Copa da Uefa.

Após os sérios problemas com o joelho, especialmente no Inter e no Milan, foi considerado incapaz para a volta ao futebol. Seja por jornalista, ou por médicos entrevistados. E se não bastassem os problemas dentro de campo, fora dele o craque mostrava vida de um pop star típico de anos 60. Naquele tempo, as palavras de "ordem" - na verdade, desordem - da rapaziada eram sexo, drogas e rock and roll. O roteiro da vida de Ronaldo daria um filme e tanto de uma figura polêmica: problemas com o peso, no casamento, acusações de envolvimento com travestis e drogas, discussões com ídolos e dirigentes, mau relacionamento com a imprensa.... O sucesso para Ronaldo não surgiu apenas em forma de glória.
Logo em 1993, quando começou a se sobressair no Cruzeiro e chamar a atenção com apenas 16 anos, Ronaldo viveu paralelamente glória e calvário. Marcou 12 gols em 14 partidas no seu primeiro Brasileiro, entre eles aquele em que enganou o goleiro uruguaio Rodolfo Rodríguez, ao roubar-lhe a bola num lance de malandragem ao melhor estilo de Pelé. Sagrou-se artilheiro da Supercopa da Libertadores, com oito gols. Mas na primeira decisão, pela Recopa Sul-Americana, contra o São Paulo, viveu seu primeiro revés, ao ver o goleiro Zetti defender sua penalidade e os tricolores levantarem o título.
Na Holanda, joelho começa a incomodarO pênalti perdido, no entanto, não atrapalhou a carreira de Ronaldo. A primeira derrota serviu como lição. Mais gols despertaram o interesse do PSV Eindhoven, e o atacante acabaria trilhando, pouco antes de ser tetra em 1994, o caminho do grande herói daquele título - foi no rival do Ajax que Romário começou a brilhar na Europa. Não foi só nisso que Ronaldo seguiu Romário. A história pública – e polêmica – de Ronaldo com as mulheres começa junto com sua primeira escalação para a Seleção Brasileira.
Em 1994, a modelo Nádia França deixou seu trabalho no Brasil para acompanhar o namorado na Holanda. A mineira afirmou que engravidou do jogador. Porém, a paternidade não foi reconhecida. Meses depois do fim do relacionamento, Nádia anunciou que sofreu um aborto espontâneo. Nesse momento, Ronaldo já estava iniciando o namoro com Susana Werner, que, na época, atuava na novela adolescente “Malhação” - hoje, a atriz é casada com o goleiro da Seleção Brasileira, Julio Cesar.
Dentro de campo, Ronaldo marcava gols às pencas na Holanda - foram 67 em 71 partidas oficiais. Bateu Kluivert na artilharia do nacional, com 30 gols. Mas começou a ter problemas com o joelho. A primeira cirurgia foi em fevereiro de 1996, após uma ressonância magnética constatar inflamações nos joelhos, especialmente calcificação no direito, que passou por uma "raspagem" na cartilagem. Recomendado a se submeter a uma lenta recuperação, nem ele nem o comando do PSV tiveram paciência: logo, logo Ronaldo já estava de volta aos campos, só que no banco. E aí, surgiu o primeiro problema com treinador: o holandês Dick Advocaat começou a irritá-lo.
Fenômeno na chegada e saída do BarçaO Barcelona já estava de olho em Ronaldo, que desembarcou na capital catalã para virar o Fenômeno. Voltou a seguir a trilha de Romário, que já saíra do Barça para o Flamengo. Com a camisa azul-grená, Ronaldo começou a encantar o planeta. Fechou o ano de 1996 com 17 gols em 20 jogos. Acabou eleito o melhor jogador do mundo pela primeira vez. Levantou a Copa do Rei e a Recopa Europeia. Os golaços lhe renderam o apelido que levou por toda a vida. Mas não conseguiu o título espanhol e surpreendeu a apaixonada torcida ao trocar, de repente, o Barça pelo Inter de Milão, que pagou multa a rescisória de US$ 32 milhões. De ídolo, passou a odiado pela torcida que o consagrou.
No Inter, Ronaldo voltou a fazer gols sensacionais. Agora com a camisa 10 em vez da 9, marcou 14 gols em 19 partidas ao encerrar o ano de 1997. Voltou a ser eleito o melhor do mundo. O título italiano, no entanto, não apareceu, apesar do bom desempenho - foi o vice-artilheiro, com 25 gols. Em compensação, faturou a Copa da Uefa.

Poucas horas após a convulsão, Ronaldo cai estatelado após choque com o goleiro francês na final da Copa de 1998: pânico no campo, nas arquibancadas e no Brasil. Seleção acaba derrotada por 3 a 0
Convulsão na Copa, contusões no Inter, fofocas...O ano de 1998 tornou-se um pesadelo para Ronaldo. Maior esperança brasileira para faturar o hexa na França, o atacante era um dos destaques da campanha, junto com Rivaldo, até a final contra os donos da casa. Uma convulsão até hoje cercada de mistério e informações desencontradas horas antes da partida mexeu com o emocional do jogador e do time, que viu Ronaldo entrar em campo e cair estatelado no chão após uma dividida com o goleiro. Depois disso, é o que todo mundo lembra: Zidane comandou o passeio na vitória por 3 a 0 naquele 12 de junho, e Ronaldo passou a conviver com as acusações de "culpado" pela derrota.



Após casamento com Milene Domingues, primeiras
acusações de traições
acusações de traições
Foi assim que Ronaldo começou a temporada do calcio 1998/1999. O Inter acabou perdendo o título para o maior rival, o Milan. O atacante também sofreu com uma tendinite e passou o ano evitando a segunda cirurgia. Em novembro, não teve jeito. O joelho estourou em um jogo contra o Lecce, pelo Campeonato Italiano. Foram apenas 36 jogos e 21 gols naquela temporada. De positivo, apenas a conquista da Copa América pela Seleção. O ano terminou com o Fenômeno na mesa de cirurgia.... mas no altar.
No fim de 1999, foi realizado o primeiro casamento e um fim que seguiu um padrão. A esposa era Milene Domingues, conhecida como Rainha das Embaixadinhas. Com ela, Ronaldo teve o primeiro filho, Ronald. Surgiram também as primeiras acusações de traições, mesmas alegações das modelos Raica de Oliveira e Daniela Cicarelli, com quem teve um casamento-relâmpago de apenas três meses, com cerimônia oficial de união realizada no Castelo de Chantilly, em Paris, no meio de especulações de briga entre a noiva e a ex, a também modelo Caroline Bittencourt, durante o evento.
Imagens do tendão do joelho de Ronaldo rompendo
chocaram o mundo pela TV
chocaram o mundo pela TV
A pior contusãoPara quem acha que nada poderia ficar pior... A temporada de 2000 foi a mais dramática da carreira de Ronaldo. A conta não é de mentiroso: sete minutos foi o tempo que o Fenômeno ficou em campo naquele ano. Após cinco meses se recuperando da operação no joelho direito, ele entrou no segundo tempo contra o Lazio, na final da Copa da Itália, no dia 12 de abril. Depois de uma arrancada, o tendão não suportou e se rompeu. As imagens do lance mostradas na TV chocaram o mundo. O astro foi obrigado a passar pela terceira cirurgia. Foram mais 15 meses longe dos campos.
Ronaldo passou mais tempo nas salas de fisioterapia. A recuperação da cirurgia no joelho foi cuidadosa. O atacante disputou três amistosos antes de entrar em um jogo oficial, contra o Brasov, pela Copa da Uefa. No total, foram 13 jogos e oito gols pelo Inter.
No ano do penta, mágoas dos torcedores do Inter

Vilão no Real e na Copa de 2006
Também no Real Madrid, Ronaldo oscilou: passou de ídolo a vilão. Ganhou a Supercopa da Espanha em 2003 e foi novamente o artilheiro da Liga, em 2004. Mas a lua de mel começaria a ruir. O clube havia formado o time de "galácticos", que fracassou na disputa dos títulos importantes no biênio 2003/2004, e daí para frente. Apesar de Ronaldo ter marcado 83 gols em 127 partidas disputadas, o relacionamento com a torcida estava abalado graças às lesões musculares e aos compromissos profissionais que não eram vistos com bons olhos pelos espanhóis, para quem faltava ao jogador dedicação.
Em 2005, o atacante viu o "conto de fadas" com a apresentadora Daniella Cicarelli chegar ao fim. O luxuoso casamento no castelo da cidade de Chantilly, nos arredores de Paris, durou apenas três meses. No campo, o Real Madrid novamente decepcionou. Mais um ano sem títulos. E Ronaldo, símbolo da "Era Galácticos", foi visto como um dos culpados. O atacante passou a ser chamado de gordo. Estava dez quilos mais pesado em relação ao início da carreira devido ao trabalho de reforço muscular, essencial devido aos problemas no joelho. Na Seleção, enfrentou crise com Parreira ao pedir para ser dispensado da Copa das Confederações.

Brigas com Lula, Pelé e PlatiniNa ocasião, Ronaldo começou a disparar sua metralhadora giratória para cima do então presidente Lula, que o chamara de gordo numa entrevista.
- Ele falou que eu estou gordo, todo mundo diz que ele bebe pra caramba. Tanto é mentira que eu estou gordo como deve ser mentira também que ele bebe pra caramba - afirmou Ronaldo, que depois, quando foi para o Corinthians, fez as pazes com o presidente.
Na ocasião, Ronaldo não quis mais papo com Lula. E, longe da melhor forma física, o camisa 9 da Seleção Brasileira ainda mostrou lampejos de craque no Mundial. Com os três gols marcados, passou o alemão Gerd Müller e tornou-se, com a soma de 15 gols, o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo. O gol derradeiro saiu em bela jogada individual em que driblou o goleiro de Gana. A partida, pelas oitavas de final, terminou com vitória brasileira por 3 a 0 e abriu esperanças de revanche contra a França de Zidane pelas quartas de final.
Mas, tal como em 1998, Zizou saiu vitorioso. Além de dar chapéu no Fenômeno, ajudou a eliminar o Brasil no triunfo dos "bleus" por 1 a 0, gol de Henry. Ronaldo acabou como um dos crucificados pelo fim do sonho do hexa, não sendo mais chamado para a Seleção. Recebeu críticas até do Rei do Futebol, durante evento para inaugurar o Festival do Esporte em Viena, na Áustria.

- Estou triste com muitas pessoas que se mostravam amigas e agora estão quase me evitando. Mas realmente fiquei decepcionado com o Pelé. Ele é brasileiro, um ídolo nosso. Acho que foi um oportunista barato. As coisas estão complicadas, mas não esperava isso dele, de falar da minha vida pessoal. O Pelé tem família, tem os problemas dele para resolver, para se preocupar. Bem que podia me deixar em paz.

Curiosamente, foi na Copa da Alemanha que Ronaldo ultrapassou Pelé como o maior goleador brasileiro em Mundiais, ao marcar duas vezes contra o Japão. Mais do que isso, tornou-se o maior artilheiro das Copas, superando o alemão Gerd Müller.
E foi diante de Pelé, em 2009, que Ronaldo viveu um de seus últimos grandes momentos no futebol. Em uma Vila Belmiro lotada, com Pelé na tribuna de honra, o Fenômeno fez dois gols antológicos na vitória por 3 a 1 sobre o Santos, e o Corinthians seria o campeão paulista daquele ano.
Decepção no Real e no MilanAo retornar ao Real Madrid, sentiu que, com a saída do presidente Florentino Pérez, começou a perder força no clube, que contratara o holandês Van Nistelrooy. O atacante manifestou logo o desejo de sair do Real por achar que não tinha apoio dos torcedores. Após vitória por 3 a 0 sobre o Alavés, ironicamente o adversário da sua estreia pelo clube merengue, ele foi vaiado no Santiago Bernabéu, o que nitidamente o incomodou. O atacante afirmou que não se sentia em casa no próprio estádio e não era tratado com carinho.

O craque voltou a Milão para defender o Milan, rival do Inter, onde fora herói e vilão. por sete milhões e meio de euros. Naquela temporada, o Rubro-Negro italiano tinha poucas chances de vencer o campeonato nacional porque começara a competição com oito pontos a menos, como punição do envolvimento do clube no "Calciocaos" (escândalo de manipulação de resultados). E o pior: na Liga dos Campeões da Uefa, Ronaldo sequer pôde entrar em campo - já atuara pelo Real na competição.

Em boa fase na vida pessoal, Ronaldo viu o sonho acabar nos campos da Itália em 13 de fevereiro de 2008, na partida contra o Livorno. Após entrar no lugar de Gilardino, o Fenômeno, logo no primeiro lance, se lesionou seriamente na hora que deu um salto. Logo em seguida, saiu chorando. Ali, terminava sua breve aparição no Milan, que não quis mais renovar o contrato com o jogador. Foram nove gols marcados em 20 partidas.

Ronaldo passou mais tempo nas salas de fisioterapia. A recuperação da cirurgia no joelho foi cuidadosa. O atacante disputou três amistosos antes de entrar em um jogo oficial, contra o Brasov, pela Copa da Uefa. No total, foram 13 jogos e oito gols pelo Inter.
No ano do penta, mágoas dos torcedores do Inter

Desavença com técnico Hector Cúper foi a gota
d'água para saída do Inter
d'água para saída do Inter
O ano de 2002 começou com o Brasil inteiro duvidando do Fenômeno. Havia campanha até para a convocação de Romário. Mas Felipão optou por Ronaldo, chamado para a Copa após ter feito só oito jogos nos primeiros cinco meses do ano. Na Itália, ele fracassara novamente com o Inter no jogo decisivo contra o Lazio, que valia o título nacional, não conquistado pelo clube havia 12 anos. Após atuação apagada na derrota de 4 a 2, que deu o scudetto ao Juventus, Ronaldo chorou diante das câmeras.
Mas, na Copa da Coreia e do Japão, o Fenômeno brilhou. Fez oito gols e foi a estrela do penta. E justamente no ano da redenção, pôs fim ao romance com o Inter. Em alta, não queria mais voltar ao clube. Brigou com o técnico argentino Héctor Cúper, sob a alegação de que o treinador o usava apenas em más condições físicas. No fim, foi negociado com o Real Madrid, que desembolsou 42 milhões de euros. O ano terminou com o título do Mundial de Clubes e o status de ser eleito o melhor do mundo pela terceira vez pela Fifa. Mas os torcedores do Inter jamais o perdoaram. Acharam que o jogador foi ingrato, mercenário, e teria agido como "fugitivo".Vilão no Real e na Copa de 2006
Também no Real Madrid, Ronaldo oscilou: passou de ídolo a vilão. Ganhou a Supercopa da Espanha em 2003 e foi novamente o artilheiro da Liga, em 2004. Mas a lua de mel começaria a ruir. O clube havia formado o time de "galácticos", que fracassou na disputa dos títulos importantes no biênio 2003/2004, e daí para frente. Apesar de Ronaldo ter marcado 83 gols em 127 partidas disputadas, o relacionamento com a torcida estava abalado graças às lesões musculares e aos compromissos profissionais que não eram vistos com bons olhos pelos espanhóis, para quem faltava ao jogador dedicação.
Em 2005, o atacante viu o "conto de fadas" com a apresentadora Daniella Cicarelli chegar ao fim. O luxuoso casamento no castelo da cidade de Chantilly, nos arredores de Paris, durou apenas três meses. No campo, o Real Madrid novamente decepcionou. Mais um ano sem títulos. E Ronaldo, símbolo da "Era Galácticos", foi visto como um dos culpados. O atacante passou a ser chamado de gordo. Estava dez quilos mais pesado em relação ao início da carreira devido ao trabalho de reforço muscular, essencial devido aos problemas no joelho. Na Seleção, enfrentou crise com Parreira ao pedir para ser dispensado da Copa das Confederações.

Na chegada a Weggis, Ronaldo estava com 95kg. Briga com balança sempre foi imensa
No ano da Copa da Alemanha, Ronaldo teve o pior início de ano da carreira. Marcou apenas dois gols em 11 jogos (até 20 de março). Naquele ano, o Fenômeno viveu um inferno-astral, mas foi titular absoluto da Seleção Brasileira. Chegou a Weggis, na Suíça, onde a Seleção se preparou para a Copa da Alemanha, com 95kg, bem acima do peso. Conseguiu perder cinco durante a preparação, mas continuou pesado para a competição. Fora isso, junto com outros jogadores, protagonizou "fugidas" da concentração para curtir a noite.
Brigas com Lula, Pelé e PlatiniNa ocasião, Ronaldo começou a disparar sua metralhadora giratória para cima do então presidente Lula, que o chamara de gordo numa entrevista.
- Ele falou que eu estou gordo, todo mundo diz que ele bebe pra caramba. Tanto é mentira que eu estou gordo como deve ser mentira também que ele bebe pra caramba - afirmou Ronaldo, que depois, quando foi para o Corinthians, fez as pazes com o presidente.
Lula falou que estou gordo, todo mundo diz que ele bebe pra caramba..."
Ronaldo
Mas, tal como em 1998, Zizou saiu vitorioso. Além de dar chapéu no Fenômeno, ajudou a eliminar o Brasil no triunfo dos "bleus" por 1 a 0, gol de Henry. Ronaldo acabou como um dos crucificados pelo fim do sonho do hexa, não sendo mais chamado para a Seleção. Recebeu críticas até do Rei do Futebol, durante evento para inaugurar o Festival do Esporte em Viena, na Áustria.

Em 2006, Ronaldo teve bate-boca com Lula, Platini e Pelé
- O problema do Ronaldo é o excesso de peso. Se ele quiser melhorar, vai ter que treinar muito - disse o eterno camisa 10 da Seleção em coletiva, que elogiou Ronaldinho Gaúcho ao mesmo tempo em que não poupou críticas à equipe comandada por Parreira. - O Gaúcho é uma grande figura. Pena que não foi bem na Copa do Mundo. A Seleção não estava bem treinada, não tinha o conjunto de um Barcelona, por exemplo, cujos atletas jogam juntos há três anos.
Pelé pediu desculpas logo depois, mas Ronaldo não escondeu a mágoa com o Rei do Futebol. Em entrevista ao jornal "O Globo", o camisa 9 partiu para o ataque.- Estou triste com muitas pessoas que se mostravam amigas e agora estão quase me evitando. Mas realmente fiquei decepcionado com o Pelé. Ele é brasileiro, um ídolo nosso. Acho que foi um oportunista barato. As coisas estão complicadas, mas não esperava isso dele, de falar da minha vida pessoal. O Pelé tem família, tem os problemas dele para resolver, para se preocupar. Bem que podia me deixar em paz.

Com Lula, relação só melhorou após ida para o
Corinthians, em 2009
Corinthians, em 2009
Na mesma entrevista, sobrou para Michel Platini, que o chamara de velho e gordo.
- Nem dei atenção. O Platini me é indiferente. Ele já se mostrou ciumento outras vezes. Tenho um amigo francês jogador (Zidane) que o superou em tudo e sempre me disse que ele era invejoso. O que conta para mim é o apoio que o Zico me deu. Ele sempre foi um ídolo e fiquei feliz com o que ele disse.Curiosamente, foi na Copa da Alemanha que Ronaldo ultrapassou Pelé como o maior goleador brasileiro em Mundiais, ao marcar duas vezes contra o Japão. Mais do que isso, tornou-se o maior artilheiro das Copas, superando o alemão Gerd Müller.
E foi diante de Pelé, em 2009, que Ronaldo viveu um de seus últimos grandes momentos no futebol. Em uma Vila Belmiro lotada, com Pelé na tribuna de honra, o Fenômeno fez dois gols antológicos na vitória por 3 a 1 sobre o Santos, e o Corinthians seria o campeão paulista daquele ano.
Decepção no Real e no MilanAo retornar ao Real Madrid, sentiu que, com a saída do presidente Florentino Pérez, começou a perder força no clube, que contratara o holandês Van Nistelrooy. O atacante manifestou logo o desejo de sair do Real por achar que não tinha apoio dos torcedores. Após vitória por 3 a 0 sobre o Alavés, ironicamente o adversário da sua estreia pelo clube merengue, ele foi vaiado no Santiago Bernabéu, o que nitidamente o incomodou. O atacante afirmou que não se sentia em casa no próprio estádio e não era tratado com carinho.

Lesões, obesidade e noitadas atrapalharam craque
brasileiro no Real Madrid
brasileiro no Real Madrid
- Nunca fiquei à vontade onde as pessoas não me desejam - disse o craque, que passou a sonhar com as conquistas do Espanhol e da Liga dos Campeões para amenizar o clima. Mas isso não aconteceu.
Em janeiro de 2007, Ronaldo passou a negociar a sua transferência para o Milan, apesar de o Real relutar num primeiro instante. O clima para a permanência, no entanto, não era nada bom. O atacante não se entendia mais com o técnico italiano Fábio Capello. O excesso de noitadas e, novamente, os compromissos com patrocinadores acabaram selando o inevitável. O Fenômeno deixava a Espanha rumo à Itália, onde se apresentou ao Milan no dia 30 de janeiro. Deixou para trás os 104 gols marcados no Real e ressentimentos da torcida merengue.O craque voltou a Milão para defender o Milan, rival do Inter, onde fora herói e vilão. por sete milhões e meio de euros. Naquela temporada, o Rubro-Negro italiano tinha poucas chances de vencer o campeonato nacional porque começara a competição com oito pontos a menos, como punição do envolvimento do clube no "Calciocaos" (escândalo de manipulação de resultados). E o pior: na Liga dos Campeões da Uefa, Ronaldo sequer pôde entrar em campo - já atuara pelo Real na competição.

No Milan, sonho termina em 13 de fevereiro de 2008, contra o Livorno, com nova lesão no joelho
O jeito foi ver das tribunas os colegas serem campeões. De cabelos crescidos, diferente da cabeça raspada dos tempos de Inter, Ronaldo descobriu no Milan que tinha hipotireoidismo, o que o fazia engordar. Tratou o problema e começou a temporada 2007/08 cinco quilos e meio mais magro. Na companhia de Kaká e Alexandre Pato, parecia que recuperaria o seu futebol.
Fora dos campos, voltou ao altar. Casou-se com Maria Beatriz Anthony e teve mais dois filhos, Maria Sophia e Maria Alice. Entre boatos de separações, os dois continuam juntos até o momento, apesar de, em 2010, o jogador ter assumido a paternidade de Alex, um menino de 5 anos, fruto de um rápido relacionamento com a garçonete Michelle Umezu, durante passagem do craque pelo Japão na pré-temporada do Real Madrid, em 2004.Em boa fase na vida pessoal, Ronaldo viu o sonho acabar nos campos da Itália em 13 de fevereiro de 2008, na partida contra o Livorno. Após entrar no lugar de Gilardino, o Fenômeno, logo no primeiro lance, se lesionou seriamente na hora que deu um salto. Logo em seguida, saiu chorando. Ali, terminava sua breve aparição no Milan, que não quis mais renovar o contrato com o jogador. Foram nove gols marcados em 20 partidas.

"Andréia" morreu em 2009
Polêmica com travestiJá casado com Bia Anthony, Ronaldo voltou ao Brasil e passou pelo momento mais difícil da carreira. Em abril de 2008, o jogador saiu de uma boate no Rio de Janeiro e, segundo admitiu em depoimento na delegacia, procurou serviços de uma prostituta na orla da Praia da Barra da Tijuca. No entanto, levou ao motel um travesti conhecido como “Andréia”, e garantiu que, ao perceber que a pessoa com quem estava não era uma mulher, teria desistido do programa.
O craque afirmou também que Andréia o teria ameaçado de extorsão para não revelar o episódio à imprensa. Na versão do travesti, no entanto, Ronaldo sabia que ele era um homem e, mesmo assim, pediu que convidasse mais duas amigas para o motel. Ainda segundo ele, houve consumo de drogas no local, que teriam sido trazidas a pedido do jogador.
Ronaldo negou uso de drogas e anabolizantes. Depois do episódio com o travesti - que foi acusado formalmente por extorsão contra o jogador e, no início de julho de 2009, morreu devido a uma meningite contraída na cidade de Mauá -, o jogador divulgou uma nota oficial à imprensa negando ser usuário de qualquer entorpecente.
- Diante dos últimos acontecimentos e com o objetivo de esclarecer, o atleta Ronaldo jamais foi usuário de drogas, não teve nenhuma queixa-crime registrada contra a sua pessoa e está sendo vítima de uma tentativa de extorsão. Ele agradece a decência da autoridade que preside o fato e, se necessário, tomará as atitudes cabíveis - escreveu no documento.
Coube ao próprio Ronaldo também afirmar que jamais usou anabolizantes durante sua carreira. A declaração aconteceu após o então coordenador do setor de dopagem da CBF, Bernardino Santi, ter dito que a lesão no joelho esquerdo do jogador poderia ter sido uma consequência de uso dos hormônios para ganhar massa muscular na época em que jogava pelo PSV, da Holanda. De acordo com o médico, demitido da instituição logo após a afirmação, em 2008, os músculos do atacante teriam crescido demais, além do que a musculatura poderia suportar.
A informação também consta na biografia não autorizada do Fenômeno, escrita pelo italiano Enzo Palladini, que chegou às livrarias em 2010. Ronaldo rebateu as acusações no Twitter:
- Quanto ao italiano, vale lembrar que desde do início da minha carreira já existe o exame antidoping. Quero ver falar e provar – escreveu.
Ira do Fla, glória e decepção no Timão

Ronaldo jamais voltou a ser o mesmo Sem a mobilidade de antes, iniciou 2010 se preparando para a Libertadores no ano do centenário. Outra decepção: após uma primeira fase impecável, o Timão encarou o Flamengo nas oitavas e foi eliminado precocemente. Ronaldo, então, viu de perto a primeira crise.
O clube tentou o título brasileiro, mas o Fenômeno, com várias lesões musculares e também uma no púbis, só jogou na reta final, já sem Mano Menezes, sem Adilson Batista e com Tite. O atacante pouco fez pelo time e junto dos companheiros viveu a frustração de perder um título nacional que estava nas mãos do clube. No início de 2011, a derrota para o Deportes Tolima, que matou o sonho da Libertadores, foi a gota d'água para sofrer pressões e até ameaças de parte da torcida. No meio disso, um outro bate-boca, pelo Twitter, com Neto, ex-jogador, ídolo do Corinthians, aborreceu o atacante. Ele se defendia dos ataques afirmando que “jogava somente por amor” quando foi criticado por Neto.
- Se você (Ronaldo) fala que só joga por amor, abra mão do R$ 1,5 milhão por mês. Eu que nunca fui 1% de você, assinava contrato em branco. Eu jogava por amor. Casagrande, Sócrates, Wladimir, Rivelino, Viola jogavam por amor. Para de conversa fiada, vai! – escreveu Neto.
Ronaldo respondeu no mesmo tom:
- Não vou responder a ex-jogador aproveitador. Que vive até hoje com a imagem ligada ao clube, implorando para fazer evento em loja oficial. Muito menos para gente irresponsável que incentiva a violência e que cospe nos outros - disse o atacante, antes de baixar o pano e pôr fim a uma carreira de glórias, mas também cheia de polêmicas.
O momento mais sublime da carreira de Ronaldo - os braços abertos depois de vencer o alemão Oliver Kahn pela segunda vez na decisão da Copa do Mundo de 2002 (veja o vídeo acima) - parecia obra de ficção para quem em abril de 2000 chocou o mundo ao desmoronar no gramado do estádio Olímpico de Roma. O tendão patelar do joelho direito estava escancaradamente rompido. A imagem era forte, e o grito de desespero com a camisa do Inter de Milão contra o Lazio, pela final da Copa do Rei, não deixava dúvidas do tamanho da dor. Parecia o fim.
Ronaldo ficou um ano e três meses parado e só voltou a jogar pela Seleção na vitória por 1 a 0 sobre a Islândia. O amistoso no Castelão, em Fortaleza, foi no dia 27 de março de 2002, menos de três meses antes da estreia na Copa. O atacante só fez mais três jogos com a camisa do Brasil até o gol contra a Turquia, o primeiro da vitória por 2 a 1 no início da caminhada rumo ao penta - enfrentou Portugal (1 a 1) e os "gigantes" Catalunha (3 a 1) e Malásia (4 a 1). Parecia loucura confiar no camisa 9. Felipão apostou alto e riu por último. Viu Ronaldo marcar oito gols na trajetória do título.

Ronaldo se machucou no local pela primeira vez em 1996. Quando jogava pelo PSV, passou por uma cirurgia para raspagem da cartilagem do tendão. Ficou quatro meses parado. Em 1999, já pelo Inter de Milão, rompeu parte do tendão patelar em um jogo contra o Lecce, pelo Campeonato Italiano. Passou cinco meses afastado dos campos e voltou justamente no fatídico confronto com o Lazio.
Além do drama do joelho direito, Ronaldo ainda teria mais duas operações na carreira. Em 2006, quando defendia o Real Madrid, veio ao Brasil para realizar uma cirurgia de raspagem de duas calcificações no osso da tíbia da perna esquerda. Ficou um mês e meio parado. Em 2008, um pesadelo similar ao de 2000: pelo Milan, mais uma lesão de tendão patelar, desta vez no joelho esquerdo.
Na época da cirurgia de 2008, em entrevista à repórter Sônia Bridi, Ronaldo cogitava parar de jogar. Mas dizia que a vontade de mais uma volta por cima era maior.
- Acredito em destino. Acredito que eu esteja aqui para cumprir uma missão. E talvez a minha missão seja essa. Mostrar para pessoas que não têm problemas e que vivem reclamando da vida, de coisas mínimas. Mostrar para o mundo que qualquer que seja o problema a pessoa tem que acreditar e se superar.
Foi apenas o primeiro capítulo de um semestre de títulos paulista e da Copa do Brasil. No primeiro, foram oito gols em dez jogos, com direito a uma pintura na primeira partida da decisão contra o Santos, encobrindo Fábio Costa na vitória por 3 a 1, na Vila Belmiro. Na competição nacional, fez um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Inter na primeira partida da decisão, no Pacaembu. No jogo de volta, deu passe para gol de André Santos no empate em 2 a 2.
Faltava a Libertadores, obsessão dos corintianos. Em 2010, Ronaldo até fez gol, mas o time não conseguiu superar o Flamengo. Neste ano, o atacante fracassou contra o Tolima. Uma famosa peça publicitária de 2003 mostrava a volta por cima de Ronaldo como símbolo da campanha do governo com o slogan "brasileiro não desiste nunca". A música tema era "Tente outra vez", na voz de Raul Seixas. Ronaldo ainda tem dois pés para cruzar a ponte, mas o peso já não comporta mais tentativas. Ele já tentou mais do que o suficiente.
O craque afirmou também que Andréia o teria ameaçado de extorsão para não revelar o episódio à imprensa. Na versão do travesti, no entanto, Ronaldo sabia que ele era um homem e, mesmo assim, pediu que convidasse mais duas amigas para o motel. Ainda segundo ele, houve consumo de drogas no local, que teriam sido trazidas a pedido do jogador.
Ronaldo negou uso de drogas e anabolizantes. Depois do episódio com o travesti - que foi acusado formalmente por extorsão contra o jogador e, no início de julho de 2009, morreu devido a uma meningite contraída na cidade de Mauá -, o jogador divulgou uma nota oficial à imprensa negando ser usuário de qualquer entorpecente.
- Diante dos últimos acontecimentos e com o objetivo de esclarecer, o atleta Ronaldo jamais foi usuário de drogas, não teve nenhuma queixa-crime registrada contra a sua pessoa e está sendo vítima de uma tentativa de extorsão. Ele agradece a decência da autoridade que preside o fato e, se necessário, tomará as atitudes cabíveis - escreveu no documento.
Coube ao próprio Ronaldo também afirmar que jamais usou anabolizantes durante sua carreira. A declaração aconteceu após o então coordenador do setor de dopagem da CBF, Bernardino Santi, ter dito que a lesão no joelho esquerdo do jogador poderia ter sido uma consequência de uso dos hormônios para ganhar massa muscular na época em que jogava pelo PSV, da Holanda. De acordo com o médico, demitido da instituição logo após a afirmação, em 2008, os músculos do atacante teriam crescido demais, além do que a musculatura poderia suportar.
A informação também consta na biografia não autorizada do Fenômeno, escrita pelo italiano Enzo Palladini, que chegou às livrarias em 2010. Ronaldo rebateu as acusações no Twitter:
- Quanto ao italiano, vale lembrar que desde do início da minha carreira já existe o exame antidoping. Quero ver falar e provar – escreveu.
Ira do Fla, glória e decepção no Timão

Na eliminação para o Tolima, a grande decepção de
Ronaldo
Ronaldo
Dentro de campo, o Fenômeno reiniciava, no Flamengo, time para o qual afirmava torcer, a tentativa de voltar aos gramados. O atacante sonhava encerrar a carreira em seu país, ganhar títulos no futebol brasileiro. O clube rubro-negro dava como certa sua contratação. Mas, segundo o jogador, não lhe fez uma proposta concreta. Foi quando chegou o Corinthians com um projeto de marketing inovador. Em 12 de dezembro, era apresentado numa festa inesquecível e se dizia mais um louco no bando. No Rio, ganhava a eterna ira da torcida rubro-negra, que o chamava de traidor.
O início no Timão foi avassalador: decisivo no Paulista e na Copa do Brasil, entrou logo para a galeria dos heróis da Fiel. Mas a lua de mel durou apenas o primeiro semestre. Tudo começou a piorar quando fraturou a mão em julho de 2009, em um clássico com o Palmeiras. A partir daí, conviveu constantemente com lesões e problemas de peso.Ronaldo jamais voltou a ser o mesmo Sem a mobilidade de antes, iniciou 2010 se preparando para a Libertadores no ano do centenário. Outra decepção: após uma primeira fase impecável, o Timão encarou o Flamengo nas oitavas e foi eliminado precocemente. Ronaldo, então, viu de perto a primeira crise.
O clube tentou o título brasileiro, mas o Fenômeno, com várias lesões musculares e também uma no púbis, só jogou na reta final, já sem Mano Menezes, sem Adilson Batista e com Tite. O atacante pouco fez pelo time e junto dos companheiros viveu a frustração de perder um título nacional que estava nas mãos do clube. No início de 2011, a derrota para o Deportes Tolima, que matou o sonho da Libertadores, foi a gota d'água para sofrer pressões e até ameaças de parte da torcida. No meio disso, um outro bate-boca, pelo Twitter, com Neto, ex-jogador, ídolo do Corinthians, aborreceu o atacante. Ele se defendia dos ataques afirmando que “jogava somente por amor” quando foi criticado por Neto.
- Se você (Ronaldo) fala que só joga por amor, abra mão do R$ 1,5 milhão por mês. Eu que nunca fui 1% de você, assinava contrato em branco. Eu jogava por amor. Casagrande, Sócrates, Wladimir, Rivelino, Viola jogavam por amor. Para de conversa fiada, vai! – escreveu Neto.
Ronaldo respondeu no mesmo tom:
- Não vou responder a ex-jogador aproveitador. Que vive até hoje com a imagem ligada ao clube, implorando para fazer evento em loja oficial. Muito menos para gente irresponsável que incentiva a violência e que cospe nos outros - disse o atacante, antes de baixar o pano e pôr fim a uma carreira de glórias, mas também cheia de polêmicas.
LEVANTOU:
A arte de tentar outra vez: Ronaldo
e superação caminham lado a lado
e superação caminham lado a lado
Título da Copa de 2002 depois da convulsão em 1998 e da cirurgia no joelho direito em 2000 foi o auge de uma história repleta de reviravoltas
Parar é difícil para todos. Imagine então o tamanho do drama para quem sempre pareceu invencível, imune aos limites do corpo, impermeável às críticas, confiante até o último quase sempre inexistente fio de cabelo. Ao decidir encerrar a carreira, Ronaldo diz ao mundo que até para um Fenômeno a cota de superações tem limites. Limites estes que certamente tiveram suas fronteiras alargadas depois da trajetória de R9.
O momento mais sublime da carreira de Ronaldo - os braços abertos depois de vencer o alemão Oliver Kahn pela segunda vez na decisão da Copa do Mundo de 2002 (veja o vídeo acima) - parecia obra de ficção para quem em abril de 2000 chocou o mundo ao desmoronar no gramado do estádio Olímpico de Roma. O tendão patelar do joelho direito estava escancaradamente rompido. A imagem era forte, e o grito de desespero com a camisa do Inter de Milão contra o Lazio, pela final da Copa do Rei, não deixava dúvidas do tamanho da dor. Parecia o fim.
Ronaldo ficou um ano e três meses parado e só voltou a jogar pela Seleção na vitória por 1 a 0 sobre a Islândia. O amistoso no Castelão, em Fortaleza, foi no dia 27 de março de 2002, menos de três meses antes da estreia na Copa. O atacante só fez mais três jogos com a camisa do Brasil até o gol contra a Turquia, o primeiro da vitória por 2 a 1 no início da caminhada rumo ao penta - enfrentou Portugal (1 a 1) e os "gigantes" Catalunha (3 a 1) e Malásia (4 a 1). Parecia loucura confiar no camisa 9. Felipão apostou alto e riu por último. Viu Ronaldo marcar oito gols na trajetória do título.

Ronaldo comemora com Oliver Kahn batido: o auge após meses de drama
A superação de 2002 também aliviou a dor da derrota para a França em 98, depois de sofrer uma convulsão no dia da final. E se torna ainda mais surpreendente se levado em conta que a lesão de 2000 já era a terceira no joelho direito.
Ronaldo se machucou no local pela primeira vez em 1996. Quando jogava pelo PSV, passou por uma cirurgia para raspagem da cartilagem do tendão. Ficou quatro meses parado. Em 1999, já pelo Inter de Milão, rompeu parte do tendão patelar em um jogo contra o Lecce, pelo Campeonato Italiano. Passou cinco meses afastado dos campos e voltou justamente no fatídico confronto com o Lazio.
Além do drama do joelho direito, Ronaldo ainda teria mais duas operações na carreira. Em 2006, quando defendia o Real Madrid, veio ao Brasil para realizar uma cirurgia de raspagem de duas calcificações no osso da tíbia da perna esquerda. Ficou um mês e meio parado. Em 2008, um pesadelo similar ao de 2000: pelo Milan, mais uma lesão de tendão patelar, desta vez no joelho esquerdo.
Na época da cirurgia de 2008, em entrevista à repórter Sônia Bridi, Ronaldo cogitava parar de jogar. Mas dizia que a vontade de mais uma volta por cima era maior.
- Acredito em destino. Acredito que eu esteja aqui para cumprir uma missão. E talvez a minha missão seja essa. Mostrar para pessoas que não têm problemas e que vivem reclamando da vida, de coisas mínimas. Mostrar para o mundo que qualquer que seja o problema a pessoa tem que acreditar e se superar.
Hoje, a frase soa como profecia. O recomeço veio com a camisa do Corinthians (veja o vídeo com momentos marcantes do atacante em 2009). Quando fechou contrato com o Timão, Ronaldo não tinha só a missão de se mostrar recuperado da cirurgia. Estava em jogo também a série de críticas que vinha recebendo desde 2006. Na Copa da Alemanha, o atacante tornou-se o maior artilheiro de todos os tempos em Mundiais, com 15 gols, mas foi bastante criticado pelo excesso de peso. Da lesão contra o Livorno até a estreia contra o Itumbiara passaram-se mais de 12 meses de estaleiro e fotos com barriga avantajada. Também foi naquele período o escândalo com um travesti. O desabafo veio no alambrado do estádio em Presidente Prudente, na comemoração de seu primeiro gol com a camisa do Timão. Com uma cabeçada aos 47 minutos do segundo tempo, empatou o clássico com o Palmeiras em 1 a 1 no dia 8 de março de 2009.
Foi apenas o primeiro capítulo de um semestre de títulos paulista e da Copa do Brasil. No primeiro, foram oito gols em dez jogos, com direito a uma pintura na primeira partida da decisão contra o Santos, encobrindo Fábio Costa na vitória por 3 a 1, na Vila Belmiro. Na competição nacional, fez um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Inter na primeira partida da decisão, no Pacaembu. No jogo de volta, deu passe para gol de André Santos no empate em 2 a 2.
Faltava a Libertadores, obsessão dos corintianos. Em 2010, Ronaldo até fez gol, mas o time não conseguiu superar o Flamengo. Neste ano, o atacante fracassou contra o Tolima. Uma famosa peça publicitária de 2003 mostrava a volta por cima de Ronaldo como símbolo da campanha do governo com o slogan "brasileiro não desiste nunca". A música tema era "Tente outra vez", na voz de Raul Seixas. Ronaldo ainda tem dois pés para cruzar a ponte, mas o peso já não comporta mais tentativas. Ele já tentou mais do que o suficiente.
PAROU:
Aos 34 anos, Ronaldo anuncia seu adeus ao futebol na segunda-feira
Ídolo menciona limites físicos e dores: 'Nos último dias, chorei feito um neném'. Anúncio foi feito oficialmente às 12h40, no CT do Corinthians

Ronaldo reclama durante Corinthians 0 x 0 Tolima, no Pacaembu
É um fenômeno natural na vida do atleta, seja ele medíocre ou excepcionai: chega uma hora em que é preciso parar. Esse é o momento que vive Ronaldo Luís Nazário de Lima, 34 anos. Foi um pouco antes do que o próprio atacante e a torcida do Corinthians imaginavam: o planejado era no final do ano, ao término de seu contrato com o clube. Mas também foi muito, muito depois do que os céticos imaginavam - havia gente apostando nisso desde 1998, quando o futuro recordista de gols em Copa do Mundo passou por um nebuloso episódio de convulsão às vésperas da final do Mundial contra a França, em Paris.
Ronaldo confirmou a decisão no “Fantástico’, da TV Globo, no domingo: vai pendurar suas milionárias chuteiras. O anúncio será feito oficialmente às 12h40m desta segunda-feira, no centro de treinamento do Corinthians, em São Paulo.- Nos últimos dias chorei feito um neném, uma criança. São as dores do corpo... A cabeça até quer continuar, mas o corpo não aguenta - disse Ronaldo à jornalista Patrícia Poeta, apresentadora do “Fantástico”.
O melhor jogador de futebol do mundo em 1996, 1997 e 2002 havia revelado mais cedo, no próprio domingo, ao jornal "O Estado de S. Paulo".
- Não aguento mais. Eu queria continuar, mas não consigo. Penso uma jogada, mas não executo como quero. Tá na hora. Mas foi lindo pra caramba – contou Ronaldo a Daniel Piza.
A última frase tira um pouco da melancolia da decisão, impressão reforçada por outra declaração divulgada pelo “Fantástico”:
- Os últimos dois anos no Brasil foram os mais incríveis da minha vida.
Ao voltar ao Brasil, em 2008, bem acima do peso e sem contrato com clube algum (desempregado, jamais, levando em conta os contratos publicitários), poucos apostariam que ele fosse brilhar novamente. Mas em 2009, repetindo algo que já havia feito tantas vezes ao longo da carreira, Ronaldo conquistaria o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil.
O Kung Fu Panda pesado da estreia bizarra contra um Itumbiara recheado de veteranos decadentes como Túlio Maravilha e Denílson Show tinha tudo para se tornar mera fonte de folclore - houve quem antevisse uma passagem melancólica como a de Garrincha pelo mesmo Corinthians, em 1966 (13 jogos, dois gols). Coisa de quem ignora a essência fenixiana de Ronaldo.
Com gols decisivos e boas atuações, ele mudou tudo. Virou alegria do povo, em moldes semelhantes ao do mito botafoguense. Para a Fiel, durante mais de um ano, pronunciar o nome do jogador bastava como gozação para todos os outros torcedores, era resposta para qualquer dissabor do cotidiano: "Ronaldo", repetiam, com graus variados de deboche.
O caso de amor com os corintianos sofreu abalos no fim do ano passado, com a perda de um título brasileiro que, durante várias rodadas, estave bem perto do Timão. E a decisão de pendurar as chuteiras ganhou força após a derrota para o modesto Deportivo Tolima, no último dia 2 de fevereiro, na cidade colombiana de Ibagué. O resultado, associado ao empate de 0 a 0 no primeiro jogo no Pacaembu, tirou do Corinthians a possibilidade de conquistar seu maior objeto de desejo: a Libertadores, único título que falta em sua galeria trofeus.

Chegada de Ronaldo ao CT
No retorno ao Brasil, houve protestos violentos. Torcedores foram à porta do CT xingar os jogadores e atirar pedras no ônibus. Houve depredação de carros de funcionários do clube e pichações onde se lia "R9 FDP", "Ronaldo maldito" e "gordo safado"... Roberto Carlos, um dos melhores amigos do atacante, usou a pressão da torcida e alegadas ameaças sofridas como pretexto para sair do clube: está prestes a assinar com o Anzhi Makhachkala, da Rússia, um contrato de R$ 22 milhões por duas temporadas.
Ronaldo não precisa se refugiar em nenhum cafundó ao sul da Federação Russa para faturar. Tem muitos contratos publicitários vinculados ao Corinthians e deve, de alguma forma, seguir ligado ao clube. Isso provavelmente será esclarecido na entrevista coletiva desta segunda-feira. Até o fim de seu contrato, mesmo que não entre mais em campo em jogos oficiais, é certo que o Fenômeno vai novamente virar o jogo. E ser aclamado mais uma vez como grande ídolo - não só da Fiel, mas também de todos os devotos pagãos do bom futebol em todo o planeta.
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